quinta-feira, 24 de julho de 2014

Conflito Israel x Hamas


   A posição do Hamas em recursar repetidamente propostas de cessar-fogo e o início da ofensiva militar israelense por terra em Gaza poderão culminar no enfraquecimento –e até mesmo isolamento– do grupo islâmico, avaliam especialistas. Bombardeios mataram ao menos 500 palestinos; do lado israelense, dois civis foram mortos.

    Israel iniciou há 14 dias a ofensiva militar "Limite Protetor", em resposta a foguetes lançados pelo Hamas. A violência na região se intensificou depois da morte de três jovens judeus na Cisjordânia em junho, seguida do assassinato de um adolescente palestino em um crime de vingança, confessado por três israelenses.

"Estamos vendo uma nova rodada de um conflito que se prolonga há muito tempo e não tem perspectiva de solução em médio prazo. Mas a diferença nesta ocasião é o enfraquecimento do Hamas, tanto dentro da estrutura palestina como em relação a Israel", afirma o cientista político Samuel Feldberg.

    Em abril, Israel já havia suspendido as negociações de paz com palestinos depois que o Hamas, que controla a faixa de Gaza, e o Fatah, que governa a Cisjordânia, assinaram um acordo de reconciliação.

    O acordo permitiria que a ANP (Autoridade Nacional Palestina) formasse um governo de unidade sob a liderança do presidente palestino, Mahmoud Abbas. Porém, para o governo do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, o Hamas é uma "organização terrorista que pede pela destruição de Israel".

Mapa mostra localização de Israel, 
Cisjordânia e Gaza
    Sendo assim, é pouco provável que o governo palestino, sob chancela da laica e pacifista OLP (Organização pela Libertação da Palestina), sustente essa aproximação ao Hamas, a favor da luta armada e da instituição de um Estado islâmico.

"O Hamas fica mais isolado, com uma prática de violência que não conta com o apoio da maioria esmagadora do povo palestino", analisa o sociólogo e arabista Lejeune Mirhan.

    Feldberg lembra ainda que o Hamas já perdeu recentemente o apoio da Irmandade Muçulmana, no Egito, e que aliados como Irã e Síria no momento se ocupam de questões internas. Esse apoio tende a ficar ainda menor com a aproximação do movimento islâmico a outros grupos radicais, como o EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), que recentemente criou um califado em uma região entre Iraque e Síria. Em comum, os radicais defendem a destruição de Israel e diminuição do poder ocidental da região.

SEM PERSPECTIVA DE PAZ

    Embora Israel e Hamas possam chegar eventualmente a um cessar-fogo no conflito atual, os analistas não acreditam que um acordo de paz duradouro seja alcançado.

    Os períodos de trégua entre os dois lados têm sido cada vez mais curtos e não há figuras eficientes na mediação das propostas concretas –Egito e EUA recentemente fracassaram em suas tentativas.

    Enquanto isso, com civis palestinos e israelenses ficam impossibilitados de ter um cotidiano normal diante das constantes ameaças de bombardeios, sirenes de alerta soando e explosões de mísseis.

"Há o dilema para o Hamas da imagem com a qual ficará se aceitar uma proposta de cessar-fogo. E o grupo declaradamente se diz disposto a acabar com o Estado Israelense", diz Feldberg.


    Mirhan avalia que o governo de Netanyahu, de extrema-direita, não se mostra predisposto à paz. "A Palestina está inserida em um contexto mundial, portanto só haverá paz quando tivermos um equilíbrio de forças no mundo, com poder multipolar. Não é o que vemos hoje, com o apoio dos EUA a Israel."

CONHEÇA OS PONTOS DA NEGOCIAÇÃO ENTRE ISRAEL E PALESTINOS

Estado palestino

Os palestinos querem um Estado plenamente soberano e independente na Cisjordânia e na faixa de Gaza, com a capital em Jerusalém Oriental. Israel quer um Estado palestino desmilitarizado, presença militar no Vale da Cisjordânia da Jordânia e manutenção do controle de seu espaço aéreo e das fronteiras exteriores


Fronteiras e assentamentos judeus

Os palestinos querem que Israel saia dos territórios que ocupou após a Guerra dos Seis Dias (1967) e desmantele por completo os assentamentos judeus que avançam a fronteira, considerados ilegais pela ONU. Qualquer área dada a Israel seria recompensada. Israel descarta voltar às fronteiras anteriores a 1967, mas aceita deixar partes da Cisjordânia se puder anexar os maiores assentamentos.

Jerusalém

Israel anexou a área árabe da Jordânia após 1967 e não aceita a dividir Jerusalém por considerar o local o centro político e religioso da população judia. Já os palestinos querem o leste de Jerusalém como capital do futuro Estado da Palestina. O leste de Jerusalém é considerado um dos lugares sagrados do Islã. A comunidade não reconhece a anexação feita por Israel.

Refugiados

Há cerca de 5 milhões de refugiados palestinos, a maioria deles descendentes dos 760 mil palestinos que foram expulsos de suas terras na criação do Estado de Israel, em 1948. Os palestinos exigem que Israel reconheça seu "direito ao retorno", o que Israel rejeita por temer a destruição do Estado de Israel pela demografia. Já Israel quer que os palestinos reconheçam seu Estado.

Segurança

Israel teme que um Estado palestino caia nas mãos do grupo extremista Hamas e seja usado para atacar os judeus. Por isso, insiste em manter medidas de segurança no vale do rio Jordão e pedem que o Estado palestino seja amplamente desmilitarizado. Já os palestinos querem que seu Estado tenha o máximo de atributos de um Estado comum.


Água

Israel controla a maioria das fontes subterrâneas da Cisjordânia. Os palestinos querem uma distribuição mais igualitária do recurso.





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