A posição do Hamas em recursar
repetidamente propostas de cessar-fogo e o início da ofensiva militar israelense
por terra em Gaza poderão culminar no enfraquecimento –e até mesmo isolamento–
do grupo islâmico, avaliam especialistas. Bombardeios mataram ao menos 500
palestinos; do lado israelense, dois civis foram mortos.
Israel iniciou há 14 dias a
ofensiva militar "Limite Protetor", em resposta a foguetes lançados
pelo Hamas. A violência na região se intensificou depois da morte de três
jovens judeus na Cisjordânia em junho, seguida do assassinato de um adolescente
palestino em um crime de vingança, confessado por três israelenses.
"Estamos vendo uma nova
rodada de um conflito que se prolonga há muito tempo e não tem perspectiva de
solução em médio prazo. Mas a diferença nesta ocasião é o enfraquecimento do
Hamas, tanto dentro da estrutura palestina como em relação a Israel",
afirma o cientista político Samuel Feldberg.
Em abril, Israel já havia
suspendido as negociações de paz com palestinos depois que o Hamas, que
controla a faixa de Gaza, e o Fatah, que governa a Cisjordânia, assinaram um
acordo de reconciliação.
O acordo permitiria que a ANP
(Autoridade Nacional Palestina) formasse um governo de unidade sob a liderança
do presidente palestino, Mahmoud Abbas. Porém, para o governo do premiê
israelense, Benjamin Netanyahu, o Hamas é uma "organização terrorista que
pede pela destruição de Israel".
Mapa mostra localização de Israel,
Cisjordânia e Gaza
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Sendo assim, é pouco provável que
o governo palestino, sob chancela da laica e pacifista OLP (Organização pela
Libertação da Palestina), sustente essa aproximação ao Hamas, a favor da luta
armada e da instituição de um Estado islâmico.
"O Hamas fica mais isolado,
com uma prática de violência que não conta com o apoio da maioria esmagadora do
povo palestino", analisa o sociólogo e arabista Lejeune Mirhan.
Feldberg lembra ainda que o Hamas
já perdeu recentemente o apoio da Irmandade Muçulmana, no Egito, e que aliados
como Irã e Síria no momento se ocupam de questões internas. Esse apoio tende a
ficar ainda menor com a aproximação do movimento islâmico a outros grupos
radicais, como o EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), que
recentemente criou um califado em uma região entre Iraque e Síria. Em comum, os
radicais defendem a destruição de Israel e diminuição do poder ocidental da
região.
SEM PERSPECTIVA DE PAZ
Embora Israel e Hamas possam
chegar eventualmente a um cessar-fogo no conflito atual, os analistas não
acreditam que um acordo de paz duradouro seja alcançado.
Os períodos de trégua entre os
dois lados têm sido cada vez mais curtos e não há figuras eficientes na
mediação das propostas concretas –Egito e EUA recentemente fracassaram em suas
tentativas.
Enquanto isso, com civis
palestinos e israelenses ficam impossibilitados de ter um cotidiano normal
diante das constantes ameaças de bombardeios, sirenes de alerta soando e
explosões de mísseis.
"Há o dilema para o Hamas da
imagem com a qual ficará se aceitar uma proposta de cessar-fogo. E o grupo
declaradamente se diz disposto a acabar com o Estado Israelense", diz
Feldberg.
Mirhan avalia que o governo de
Netanyahu, de extrema-direita, não se mostra predisposto à paz. "A
Palestina está inserida em um contexto mundial, portanto só haverá paz quando
tivermos um equilíbrio de forças no mundo, com poder multipolar. Não é o que
vemos hoje, com o apoio dos EUA a Israel."
CONHEÇA OS PONTOS DA NEGOCIAÇÃO
ENTRE ISRAEL E PALESTINOS
Estado palestino
Os palestinos querem um Estado
plenamente soberano e independente na Cisjordânia e na faixa de Gaza, com a
capital em Jerusalém Oriental. Israel quer um Estado palestino desmilitarizado,
presença militar no Vale da Cisjordânia da Jordânia e manutenção do controle de
seu espaço aéreo e das fronteiras exteriores
Fronteiras e assentamentos judeus
Os palestinos querem que Israel
saia dos territórios que ocupou após a Guerra dos Seis Dias (1967) e desmantele
por completo os assentamentos judeus que avançam a fronteira, considerados
ilegais pela ONU. Qualquer área dada a Israel seria recompensada. Israel
descarta voltar às fronteiras anteriores a 1967, mas aceita deixar partes da
Cisjordânia se puder anexar os maiores assentamentos.
Jerusalém
Israel anexou a área árabe da
Jordânia após 1967 e não aceita a dividir Jerusalém por considerar o local o
centro político e religioso da população judia. Já os palestinos querem o leste
de Jerusalém como capital do futuro Estado da Palestina. O leste de Jerusalém é
considerado um dos lugares sagrados do Islã. A comunidade não reconhece a
anexação feita por Israel.
Refugiados
Há cerca de 5 milhões de
refugiados palestinos, a maioria deles descendentes dos 760 mil palestinos que
foram expulsos de suas terras na criação do Estado de Israel, em 1948. Os
palestinos exigem que Israel reconheça seu "direito ao retorno", o
que Israel rejeita por temer a destruição do Estado de Israel pela demografia. Já
Israel quer que os palestinos reconheçam seu Estado.
Segurança
Israel teme que um Estado
palestino caia nas mãos do grupo extremista Hamas e seja usado para atacar os
judeus. Por isso, insiste em manter medidas de segurança no vale do rio Jordão
e pedem que o Estado palestino seja amplamente desmilitarizado. Já os
palestinos querem que seu Estado tenha o máximo de atributos de um Estado
comum.
Água
Israel controla a maioria das
fontes subterrâneas da Cisjordânia. Os palestinos querem uma distribuição mais
igualitária do recurso.
FONTE: UOL Notícias Internacionais
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