domingo, 27 de julho de 2014

ENTENDENDO A CRISE ARGENTINA: PERGUNTAS E RESPOSTAS

    
Do G1, em São Paulo

    A Argentina enfrenta uma batalha jurídica em torno dos pagamentos de suas dívidas, que pode levar o país a dar um novo calote em seus credores.

    Nesta sexta-feira (27), o pagamento de US$ 1 bilhão feito na véspera pela Argentina a credores da dívida (que recebiam em parcelas) foi considerado "ilegal" e "não será realizado" pelo juiz Thomas Griesa, dos Estados Unidos. Com isso, os recursos do depósito serão bloqueados. Para a Justiça, os argentinos só podem pagar as parcelas quando honrarem o pagamento dos que exigem receber o valor sem descontos ou parcelas.

    José Maria de Souza Júnior, professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, diz que a disputa é apenas mais uma das instabilidades que a Argentina vem sofrendo desde o megacalote da dívida pública em 2001.

VEJA PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE A CRISE

QUAL A ORIGEM DA DÍVIDA?

    Em 2001, em meio a uma crise econômica e política, a Argentina anunciou um calote em sua dívida pública, que era de cerca de US$ 100 bilhões. As pessoas, empresas e os fundos que tinham títulos da dívida (ou seja, que haviam emprestado dinheiro para o governo) deixaram de receber os rendimentos deles e foram impedidas de resgatar os investimentos. Quatro anos depois, no governo de Néstor Kirchner, o país tentou recuperar a credibilidade com um plano de renegociações desses débitos.

COMO FOI A RENEGOCIAÇÃO?

    Em 2005, o então presidente Néstor Kirchner ofereceu aos prejudicados pagamentos com descontos acima de 70% e parcelados em 30 anos. Ao todo, 92,4% dos credores aceitaram as condições.

O QUE ACONTECEU COM QUEM ACEITOU A RENEGOCIAÇÃO?

    Esse grupo de credores tem recebido os pagamentos em parcelas – é a chamada dívida reestruturada.

O QUE ACONTECEU COM QUEM NÃO ACEITOU A RENEGOCIAÇÃO?

    Parte dos credores (7,6% do total) não quis receber os valores com descontos e parcelados. Fundos especulativos dos Estados Unidos aceitaram comprar esses títulos desses credores, a preços bem baixos. O governo argentino chama esses fundos de “abutres”, porque, assim como os pássaros, eles "se alimentam de coisas podres". O que os investidores tentam fazer, agora, é lucrar com títulos de pouco valor e que dificilmente seriam resgatados.

COMO A QUESTÃO FOI PARAR NA JUSTIÇA DOS EUA?

    Os “fundos abutres”, com sede nos EUA, procuraram a Justiça do seu país para receber o total dos valores dos títulos, sem descontos ou pagamento em parcelas.

O QUE DECIDIU A JUSTIÇA DOS EUA?

    Em 2012, um dos casos recebeu uma decisão favorável da Justiça dos Estados Unidos. O juiz Thomas Griesa determinou que a Argentina deve pagar US$ 1,33 bilhão ao NML Capital e Aurelius, um dos fundos especulativos. O governo de Cristina Kirchner recorreu, mas o Tribunal de Apelações de Nova York também concordou com a decisão de Griesa.

    A Argentina recorreu, então, à Suprema Corte norte-americana, que, no último dia 19 de maio, decidiu que o país deve pagar os fundos "abutres". A Justiça também determinou que a Argentina não pode pagar as parcelas de dívida reestruturada a menos que pague também aos fundos. A decisão também derrubou uma medida cautelar (chamada de “stay”, que significa “parar”) que suspendia os efeitos da determinação judicial anterior.

QUAL FOI A CONSEQUÊNCIA DA DECISÃO?

    Para pagar as parcelas já prometidas, a Argentina teria que pagar também o US$ 1,33 bilhão devido aos “fundos abutres”. Sem isso, o país pode ter que dar um calote involuntário nos credores que aceitaram a reestruturação.

“Não dá para dizer que é uma novidade, ou que pegaram a Argentina de surpresa. É quase que uma tragédia anunciada, porque sempre houve risco de ocorrer”, diz José Maria de Souza Júnior, professor das Faculdades Rio Branco.

QUAL O TAMANHO DA DÍVIDA COM OS CREDORES QUE NÃO ACEITARAM A RENEGOCIAÇÃO?

    Segundo o Ministério da Economia argentino, o grupo que não aceitou a renegociação detém 8% dos títulos da dívida pública, que chegam a US$ 15 bilhões.

A ARGENTINA TEM DINHEIRO PARA PAGAR A DÍVIDA?

    Sim. A Argentina possui atualmente cerca de US$ 28 bilhões em reservas.

POR QUE A ARGENTINA NÃO PAGA TODOS CREDORES?

    O país não pode pagar os credores que renegociaram por conta da decisão judicial, que a obriga a pagar também os fundos "abutres". Acatar a decisão e fazer o pagamento aos fundos também poderia abrir uma brecha judicial que permitiria que os credores que aceitaram a renegociação questionassem o país exigindo também o pagamento integral – que o país não tem recursos para efetuar.

QUANDO VENCE A PRÓXIMA PARCELA DA DÍVIDA REESTRUTURADA?

    A próxima parcela da dívida vence em 30 de junho.

POR QUE A ARGENTINA ANTECIPOU O PAGAMENTO?

    No dia 26, a Argentina anunciou o pagamento da parcela, com depósito de US$ 832 milhões, dos quais US$ 539 milhões foram para contas do Bank New York Mellon, que deveria repassá-los aos credores. O total de US$ 1 bilhão inclui o pagamento de vencimentos em pesos. A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, considera que, mesmo que o dinheiro seja embargado pela Justiça, o país não deu calote na dívida.

    O anúncio do pagamento foi interpretado por alguns analistas como uma "estratégia política". "É uma estratégia para jogar a bola para o juiz Thomas Griesa, que no ano passado decidiu a favor dos fundos especulativos, NML Capital e Aurelius", disse à France Presse o economista Eduardo Blasco, da consultoria Maxinver. "Parece que querem que Griesa decida se o país entrará em moratória ou não."

POR QUE O PAGAMENTO DA PARCELA DA DÍVIDA FOI BLOQUEADO?

    A Justiça americana determinou que a Argentina só pode pagar os que concordaram com o parcelamento quando também honrar o pagamento dos que exigem receber o valor sem descontos ou parcelas. Nesta sexta-feira (27), o juiz Thomas Griesa, dos Estados Unidos, considerou o depósito feito em Nova York como “ilegal” e “não realizado”.

O QUE ACONTECE SE A ARGENTINA NÃO PAGAR?

    Como os recursos do depósito feito pela Argentina foram bloqueados, isso pode configurar um novo calote do país – mesmo que involuntário. Griesa determinou que o dinheiro, depositado no banco New York Mellon, seja devolvido. Se uma solução não for encontrada até 30 de junho (vencimento da parcela), a Argentina terá dado um "calote técnico". Um seguro feito sobre essa dívida, no entanto, deve ser acionado, o que dará ao governo mais 30 dias para negociar com os “fundos abutres”.

O QUE ACONTECE SE A DÍVIDA COM OS "FUNDOS ABUTRES" FOR EXECUTADA?

“Se essa dívida for executada, o contrato prevê que os outros credores que aceitaram a renegociação podem recorrer parar receber nos mesmo termos”, explica o professor José Maria de Souza Júnior. “Neste caso, a conta poderia chegar a R$ 500 bilhões, ao passo que as reservas do país estão hoje em US$ 28 bilhões”.

QUAIS SÃO AS ALTERNATIVAS DO GOVERNO KIRCHNER?

    Para Souza Júnior, não resta muito a fazer a não ser insistir na negociação ou tentar judicialmente suspender ou protelar a decisão da Corte dos EUA que garante aos fundos especulativos o direito de exigir do governo argentino o pagamento integral de US$ 1,33 bilhão que lhes é devido.

“A Argentina vai tentar protelar judicialmente a execução desta decisão e tentar manobrar politicamente, inclusive em instâncias que não necessariamente tem a ver com a corte americana, como a Organização das Nações Unidas (ONU). Ela vai ter que falar que não tem dinheiro, mas que quer pagar e negociar. Esta é única saída”, diz.

    José Niemeyer, Coordenador de Graduação e Pós-Graduação em Relações Internacionais Ibmec, lembra que desde a crise de 2008, quando o dinheiro em circulação diminuiu, os credores estão muito mais impacientes em relação aos vencimentos de títulos a receber. Ele avalia, entretanto, que é exagero falar em risco de quebra. “Quando é uma empresa ou indivíduo que não pode pagar, tem como como partir para uma punição ou falência. Mas em se tratando de inadimplência do estado, o país não vai acabar. Trata-se de um problema macroeconômico que vai ter que ser resolvido, uma vez que há uma dezena de agentes econômicos envolvidos.”

A CRISE NA ARGENTINA PODE AFETAR O BRASIL?

    Já fora dos mercados dos internacionais, pela baixa credibilidade, o principal parceiro econômico da Argentina é o Brasil, que já está sentindo os efeitos da crise no vizinho. A queda nas trocas comerciais entre os países já ultrapassa 20% este ano. Para conter os dólares dentro de casa, o governo vizinho aperta cada vez mais as importações e fecha as portas para os produtos brasileiros.


“Um calote da China seria mais grave, mas um da Argentina também é grave”, diz José Niemeyer, do Ibmec. “O Brasil é o grande líder da região e a Argentina é importante para o país, temos multinacionais lá e uma linha de comércio grande com o eles. Qualquer crise macroeconômica na Argentina provoca desdobramentos no Brasil”, explica.

FONTE: G1

ENTENDENDO A CRISE ARGENTINA EM 10 PONTOS

    
Darlan Alvarenga e Juliana Cardilli
Do G1

    A forte desvalorização do peso nos últimos dias levantou ainda mais dúvidas sobre a situação econômica da Argentina, que tem se agravado nos últimos meses com a disparada da inflação e a redução drástica das reservas internacionais.

    Do megacalote da dívida pública em 2001 aos índices econômicos negativos no início de 2014, confira 10 pontos que explicam a atual crise na Argentina.



    Em 2001, em meio a uma grave crise econômica e política, a Argentina anunciou um calote em sua dívida pública, que na época era de cerca de US$ 100 bilhões. A decisão abalou a confiança dos investidores, afastou empresas estrangeiras e fez o país ter dificuldades para conseguir empréstimos internacionais. A entrada de dólares ficou dependente da exportação do agronegócio. Mas a economia perdeu competitividade, e a entrada de moeda estrangeira com a venda de grãos e carne também caiu.

    Com isso, a Argentina não consegue mais financiar as suas contas externas, e o volume de reservas internacionais – espécie de "poupança" em moeda estrangeira contra crises – vem caindo. Neste início de ano, o volume dessas reservas, que era de US$ 43 bilhões há 1 ano, caiu para menos de US$ 30 bilhões. As reservas internacionais brasileiras, para efeitos de comparação, somam mais de US$ 370 bilhões.

    Em 2005, no governo de Nestor Kirchner, o país tentou recuperar credibilidade oferecendo a quem tinha sido prejudicado pelo calote pagamentos com descontos acima de 70%, a serem feitos em 30 anos. Mais de 90% dos credores aceitaram a proposta do governo, mas ações de quem rejeitou o acordo ainda correm em tribunais internacionais.


"De certa forma, a crise de 2001 nunca foi resolvida totalmente, pois parte dos credores não aceitou o calote e foi para a Justiça, o que impede até hoje o país de levantar fundos internacionais de ajuda", afirma Carlos Stempniewski, economista e professor de Comércio Exterior das Faculdades Rio Branco.


    Para tentar mudar a situação, o governo adotou diversas medidas que restringem a saída de dólares do país: aumentou impostos sobre gastos no cartão de crédito no exterior, passou a exigir aprovação do banco central para compra de dólar para turismo e impôs restrições ao comércio online.

    Com a falta de dólares no mercado, a cotação disparou. Em 23 de janeiro, o peso argentino desabou 11%, a oito pesos por dólar, na maior queda diária desde a crise de 2002. Fora do mercado oficial, no paralelo – que escapa às muitas restrições do governo –, a cotação está ainda mais alta: era de 10 pesos por dólar, tendo se popularizado a expressão "dólar Messi", em referência ao número da camisa do jogador, e já passou a ser negociada por 13 pesos.

    A falta de confiança no sistema financeiro do país é enorme, e a "poupança" dos argentinos passou a ser juntar e guardar dólares em casa, o que faz a moeda disparar ainda mais, para desespero do governo. "O que aconteceu foi uma rendição à realidade. O governo que dizia o tempo todo que não iria desvalorizar o câmbio. Na prática, começou a ceder", diz Leonardo Trevisan, que é professor de economia internacional da PUC São Paulo.

"Restou pouco espaço para mágica. Não tem mais o que proibir. Já proibiram tudo por lá. Chegaram ao ápice de controlar até as compras online", diz Carlos Stempniewski. "Pode-se prever mais desvalorização e mais turbulência. É um cenário preocupante que vai exigir remédios amargos que governos populistas resistem a aplicar", completa o economista.

    As medidas afetam, além da população, também as empresas argentinas. Para evitar que a balança comercial fique negativa – quando a importação é maior que a exportação –, quem quiser importar precisa compensar com uma exportação no mesmo valor. Há empresas de peças de automóveis, por exemplo, exportando vinhos. Essa política, no entanto, também é responsável por reduzir ainda mais a confiança dos investidores estrangeiros, que se afastam do país e não colocam dólares para dentro da fronteira.

    Na sexta-feira, 24 de janeiro, o governo argentino anunciou um relaxamento das medidas de controle e disse que permitirá a compra de divisas estrangeiras pela população para posse e economia. A medida, no entanto, pode ter pouco efeito, visto que os dólares têm sido escassos no país.


    A economia pouco competitiva também levou às alturas a taxa de inflação. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec), órgão oficial do governo, a inflação terminou 2013 em 10,9%. Há suspeitas, no entanto, de que os números têm sido maquiados. Segundo as principais consultorias independentes argentinas, a inflação anual foi de pelo menos 28%.

"Nem o governo acredita nesse índice. A maior prova são os aumentos salariais para os sindicatos amigos. Os caminhoneiros, por exemplo, receberam em outubro reajuste de 25%", afirma o professor Leonardo Trevisan, lembrando que os indícios de maquiagem nos dados oficiais levou a revista "The Economist" a excluir os números do governo argentino das suas publicações.

    O Conselho Executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) emitiu no início de 2013 uma declaração de censura contra a Argentina por considerar insuficiente a melhoria de qualidade dos dados oficiais do país, pedida pelo fundo desde setembro de 2012.

    Em junho do ano passado, os preços de 500 produtos foram congelados e tabelados como tentativa de controlar a crescente inflação. Grande exportadora histórica de commodities, a Argentina está importando produtos básicos para conter a alta de preços. Recentemente, o país anunciou que iria comprar tomates do Brasil.

"O dólar não pode ter um valor que o governo imagina que ele tem. Mas se deixar o câmbio livre, a pressão inflacionária será ainda mais forte. Como o governo não quer mudar o modelo econômico, ele cede um pouco no câmbio e aperta do outro lado, como acaba de fazer ao restringir as compras online", afirma Leonardo Trevisan.


    Leonardo Trevisan, da PUC, explica que, mesmo com uma economia pouco industrializada e baseada na exportação de carne, soja e trigo, a Argentina conseguiu de fato uma melhora nos primeiros anos após a moratória. "Apesar da forte pressão contra a classe média, que compra cada vez menos, de fato há hoje uma distribuição de renda muito mais significativa. Quase 12% dos argentinos muito pobres deixaram a linha de pobreza desde 2004. Mas este tipo de modelo cobra o seu preço, basta ver o que acontece no setor de energia", afirma o professor, citando os recentes blecautes. "Há 25 anos não se constrói nenhuma nova usina de geração de energia na Argentina".

"A família Kirchner entrou pisando no acelerador e a forte demanda externa por commodities ajudou muito a encobrir os problemas. Mas aí veio a crise financeira de 2008, 2009, a China passou a comprar menos, o dólar ganhou força no mercado internacional e agora a conta está chegando", afirma o economista Celso Toledo, da LCA, em referência ao período entre 2004 e 2007, com o presidente Néstor Kirchner, marcado por taxa de crescimento acima de 6% e crescimento das reservas internacionais.

"O fato concreto é que a Argentina não possui uma estrutura produtiva diversa e competitiva capaz de gerar superávits na conta corrente do país (quando há mais dinheiro entrando no país do que saindo)", avalia Cristina Helena Pinto de Mello, professora de Economia da ESPM.

    Além da falta de investimento e da dificuldade de atrair capital estrangeiro, analistas apontam uma regressão institucional no país. "O que está faltando na Argentina são instituições sólidas e confiáveis, e regras confiáveis. É o único país do mundo de renda média baixa que faz maquiagem de dados econômicos", afirma Rodrigo Zeidan, professor de economia e finanças da Fundação Dom Cabral.


    A situação do governo Kirchner se complicou em outubro de 2012. Cristina, que já enfrentava uma oposição mais forte, com diversas críticas ao seu governo, sofreu um revés nas eleições legislativas, quando sua coalizão perdeu nos principais distritos – apesar de manter a maioria no Congresso.

"Com o resultado, o governo não tem maioria parlamentar que permita uma reforma para a reeleição de Cristina pela segunda vez. Com isso, ela encerra sua presidência em 2015", diz Luis Fernando Ayerbe, coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp.

    A ausência da presidente na campanha, as dúvidas sobre seu verdadeiro estado de saúde – ela ficou afastada para uma cirurgia de drenagem de um hematoma cerebral –, as incertezas sobre a economia do país e o medo da violência pesaram na hora do voto, fazendo do pleito para legisladores uma prévia das eleições presidenciais de 2015.

    Cristina retomou seus compromissos semanas após a eleição, em 18 de dezembro de 2013. Na data, anunciou novos ministros da Economia e da Agricultura – medida que surpreendeu a imprensa local.

"Ela fez uma reforma ministerial importante. Colocou pessoas de confiança, mas que tem independência, voo próprio. O kirchnerismo tem uma forte influência do presidente nas decisões cotidianas. Agora ela nomeou pessoas com maior capacidade de gestão e mais independentes", explicou o professor Luis Fernando Ayerbe.


    Logo após a reforma ministerial, Cristina saiu de cena e ficou mais de um mês sem aparições públicas – um contraste com a personalidade midiática e a agenda de intensas atividades. No período, passou férias em sua casa em El Calafate, no sul do país, e fez despachos internos na Casa Rosada.

    Marcos Castrioto de Azambuja, que já foi embaixador do Brasil na Argentina e na França e é membro do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), acha que a mudança de perfil se deve a uma consciência de Cristina de que o modelo utilizado por ela se esgotou.

"Como ela estava jogando não estava dando certo. Sua popularidade está caindo. Ela teve um susto relacionado à saúde, um problema que podia ser muito sério, deu a ela a ideia da precariedade das coisas", disse. “É um problema de quem vive um fim de festa, fim de feira. O mundo vai pior hoje do que nos anos iniciais do Néstor Kirchner, quando os países de commodities tiveram seu mercado imensamente ampliado. Hoje há uma diminuição real da capacidade de crescer".

    A falta de credibilidade do governo também tem influência no posicionamento da presidente. Segundo o embaixador, a Argentina cometeu "um pecado muito grave da mentira sistemática dos números da economia". "Ninguém acredita no que sai da boca dela [Cristina]. Há uma presunção de que tudo é uma mentira. Agora ela se deu conta que tem menos tempo, menos prestígio e menos pano de onde cortar. O que faz ela sobreviver é que na Argentina não há alternativa ao peronismo", afirmou Azambuja.

    Para o professor Ayerbe, tanto a saída de cena quanto a reforma ministerial evidenciaram a necessidade da presidente de focar na sucessão. "A situação está difícil para o kirchnerismo. Para o governo agora a questão é viabilizar uma candidatura própria, apesar dos percalços econômicos".


    Os problemas, para Rubens Ricupero, ex-embaixador, ex-ministro e atual diretor da Faculdade de Economia da Faap, criam um clima perturbador no país. "A Argentina talvez seja o país da América do Sul em que haja mais chance da vitória da oposição – se bem que os dois principais candidatos saíram mais ou menos do setor que era anteriormente do governo" explica. "A derrota do governo é muito forte, e sem dúvida o novo presidente vai herdar uma situação difícil".

    Os dois principais nomes da oposição são Sergio Massa, ex-prefeito de Tigre e deputado eleito pela província de Buenos Aires, e Mauricio Macri, prefeito de Buenos Aires que já lançou sua candidatura à presidência para 2015.

    Os analistas concordam que Cristina enfrenta sérias dificuldades para ter um sucessor com chances de vitória. Deste modo, a oposição tem amplas chances, apesar de não haver nenhum candidato com grande promessa de renovação.

"A ideia geral é que o kirchnerismo sai em 2015. Eles não têm um candidato que seja viável eleitoralmente. Isso só seria possível se a situação estivesse muito boa, como foi o caso de Lula e Dilma no Brasil em 2010. Para construir um candidato viável, é preciso gerar melhoras. E esse ano vai ser um ano de baixo crescimento", explica o professor Luis Fernando Ayerbe.

    Para o embaixador Azambuja, o que faz Cristina ter sobrevivido aos últimos anos é que na Argentina não há alternativa política ao peronismo – corrente da qual ela é a mais recente "encarnação". Além disso, a crise nos setores populares tem sido menor que nos médios e altos. "O peronismo é uma grande ameba, governa às vezes para a esquerda, às vezes para a direita, mas é a força motriz da Argentina. Não há como escapar desta grande ameba que vai mudando de forma, que reúne nacionalismo, populismo e estadismo com doses maciças de corrupção".

"As diversas modalidades de peronismo são muito poderosas. Não se viu até hoje uma força verdadeiramente independente do peronismo", afirma o embaixador Ricupero. Para ele, mesmo com uma derrota nas próximas eleições, o kirchnerismo não deve ser visto como derrotado. "A Cristina já tem um certo esquema de sucessão, com seu filho, com a juventude. É difícil imaginar que o kirchnerismo desapareça".


    Quando Cristina conseguiu voltar do afastamento médico e realizou a mudança inesperada de gabinete – que levou o foco do país novamente para as iniciativas presidenciais – novos problemas surgiram, criando uma sensação de crise. Um deles foi a greve de policiais, que resultou em protestos da categoria e saques generalizados no interior do país. Pelo menos nove pessoas morreram em enfrentamentos.

"Ela estava saindo da doença, tinha nomeado o novo gabinete, era uma fase que aparecia como de retomada, e acontece algo assim, que cria um clima de insegurança. Ficou mal para ela", analisa o professor Ayerbe.

    O embaixador Ricupero, entretanto, lembra que graves protestos e saques não são inéditos na Argentina, apesar da gravidade da situação. "As pessoas se alarmam muito quando isso acontece, mas talvez em outro país fosse um sinal muito mais grave. Evidentemente é grave, mostra uma deterioração muito séria da coesão nacional, da capacidade dos governos de controlar o que está acontecendo. Mas é um fato que se repete há muito tempo", explicou.

    Para o embaixador Azambuja, é preciso lembrar que o descontentamento na Argentina é um estado permanente. "A Argentina é um país de insatisfeitos, há uma sensação de que perdeu o bonde da historia, uma irritabilidade, uma frustração. Você tem essas greves todas, mas como não há caminho, não há alternativas".


    Desde 2009, o governo argentino e o grupo de comunicação Clarín estão em uma batalha judicial para a colocação em vigor da Lei de Meios, que obriga a empresa a se desfazer de várias de suas posses. No fim de 2013, a Suprema Corte da Argentina declarou a lei constitucional.

    O jornal, que já fazia oposição ao governo Kirchner, passou a viver praticamente em guerra com a presidente durante os anos de brigas judiciais. Para os especialistas, entretanto, a parte mais grave da disputa já passou, e não deve influenciar o governo no futuro próximo.

"Há muita controvérsia com a Lei de Meios, mas quando ela foi apresentada passou tranquilamente, foi aprovada sem problemas. Quando começou a se caracterizar esse conflito, começou a se associar que ela era para prejudicar o grupo Clarín, criou-se a polêmica, a lei foi contaminada", explica o professor Luis Fernando Ayerbe. "Mas isso agora terminou. O grupo está fazendo um ajuste, o governo vai aprovar, e o conflito não deve ser mais tão grave, apesar de o Clarín continuar na oposição".


    A forte desvalorização do peso argentino nos últimos dias é um indicativo de esgotamento do modelo econômico e da série de medidas lançadas pelo governo de Cristina Kirchner. Para os especialistas ouvidos pelo G1, a situação pode estar perto de entrar em um caminho sem volta, de consequências preocupantes.

    Ainda que o cenário atual seja o resultado do acúmulo de crises e de problemas antigos não resolvidos, os analistas destacam que a situação das reservas internacionais se agravou no  comando de Cristina, quando as receitas com exportações deixaram de ser suficientes para garantir o equilíbrio das contas.

"O conjunto da obra é até pior do que o de 2001. A dinâmica inflacionária, no nível em que está, só se rompe com um choque, não tem choro nem vela. Eu diria que a chance de ter uma recessão daquelas em que o PIB cai 4% nos próximos anos é de quase 80%", diz o economista Celso Toledo, da LCA. "O triste é que já aconteceu com eles. Historicamente, todos os males da Argentina são iguais aos do Brasil, mas um pouco piores. Do governo militar ao plano de estabilização".

    A receita econômica para situações como a da Argentina costuma, invariavelmente, incluir a adoção de medidas como desvalorização cambial, mudanças tributárias, aumento na taxa de juros e controle dos gastos públicos. "A Argentina pode dar a volta por cima, basta seguir a cartilha. Vai doer, mas olha o que está acontecendo com países como Grécia e Portugal", diz Rodrigo Zeidan, da Fundação Dom Cabral.

    Para os analistas, entretanto, o cenário político com vista às eleições presidenciais de 2015 continuará se impondo, com poucas chances de uma mudança de rota na política econômica no curto prazo. Para eles, caso o cenário internacional não se altere muito, a tendência é que a crise não melhore nem se intensifique.

    Para o embaixador Rubens Ricupero, a atual realidade lembra crises do passado, mas sem tanta gravidade. "Não há perspectiva de melhora econômica e política. Há fatores que podem complicar a situação, como o julgamento sobre a dívida externa argentina. O tempo vai se esgotando, a situação é grave, mas ainda não se chegou a um colapso do sistema, como já ocorreu antes".

    Para o professor Luis Fernando Ayerbe, há um consenso até mesmo na oposição de que a situação não vai piorar – mas grandes mudanças também não são esperadas. "O governo não vai gerar uma alternativa que melhore a situação econômica. O que se discute é levar as coisas até o final do mandato".

    A capacidade de flutuação do país, de conseguir manter-se entre diversas crises, é lembrada por Azambuja. "A Argentina surpreende pelo que não conseguiu fazer, por não ter aproveitado oportunidades extraordinárias. É intrinsecamente um país rico. O que surpreende não é que ela vá mal, mas como ela não consegue ir bem. O país não seguirá muito bem, mas não se prepare para nenhum colapso. Não devemos subestimar a Argentina".

FONTE: G1

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Conflito Israel x Hamas


   A posição do Hamas em recursar repetidamente propostas de cessar-fogo e o início da ofensiva militar israelense por terra em Gaza poderão culminar no enfraquecimento –e até mesmo isolamento– do grupo islâmico, avaliam especialistas. Bombardeios mataram ao menos 500 palestinos; do lado israelense, dois civis foram mortos.

    Israel iniciou há 14 dias a ofensiva militar "Limite Protetor", em resposta a foguetes lançados pelo Hamas. A violência na região se intensificou depois da morte de três jovens judeus na Cisjordânia em junho, seguida do assassinato de um adolescente palestino em um crime de vingança, confessado por três israelenses.

"Estamos vendo uma nova rodada de um conflito que se prolonga há muito tempo e não tem perspectiva de solução em médio prazo. Mas a diferença nesta ocasião é o enfraquecimento do Hamas, tanto dentro da estrutura palestina como em relação a Israel", afirma o cientista político Samuel Feldberg.

    Em abril, Israel já havia suspendido as negociações de paz com palestinos depois que o Hamas, que controla a faixa de Gaza, e o Fatah, que governa a Cisjordânia, assinaram um acordo de reconciliação.

    O acordo permitiria que a ANP (Autoridade Nacional Palestina) formasse um governo de unidade sob a liderança do presidente palestino, Mahmoud Abbas. Porém, para o governo do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, o Hamas é uma "organização terrorista que pede pela destruição de Israel".

Mapa mostra localização de Israel, 
Cisjordânia e Gaza
    Sendo assim, é pouco provável que o governo palestino, sob chancela da laica e pacifista OLP (Organização pela Libertação da Palestina), sustente essa aproximação ao Hamas, a favor da luta armada e da instituição de um Estado islâmico.

"O Hamas fica mais isolado, com uma prática de violência que não conta com o apoio da maioria esmagadora do povo palestino", analisa o sociólogo e arabista Lejeune Mirhan.

    Feldberg lembra ainda que o Hamas já perdeu recentemente o apoio da Irmandade Muçulmana, no Egito, e que aliados como Irã e Síria no momento se ocupam de questões internas. Esse apoio tende a ficar ainda menor com a aproximação do movimento islâmico a outros grupos radicais, como o EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante), que recentemente criou um califado em uma região entre Iraque e Síria. Em comum, os radicais defendem a destruição de Israel e diminuição do poder ocidental da região.

SEM PERSPECTIVA DE PAZ

    Embora Israel e Hamas possam chegar eventualmente a um cessar-fogo no conflito atual, os analistas não acreditam que um acordo de paz duradouro seja alcançado.

    Os períodos de trégua entre os dois lados têm sido cada vez mais curtos e não há figuras eficientes na mediação das propostas concretas –Egito e EUA recentemente fracassaram em suas tentativas.

    Enquanto isso, com civis palestinos e israelenses ficam impossibilitados de ter um cotidiano normal diante das constantes ameaças de bombardeios, sirenes de alerta soando e explosões de mísseis.

"Há o dilema para o Hamas da imagem com a qual ficará se aceitar uma proposta de cessar-fogo. E o grupo declaradamente se diz disposto a acabar com o Estado Israelense", diz Feldberg.


    Mirhan avalia que o governo de Netanyahu, de extrema-direita, não se mostra predisposto à paz. "A Palestina está inserida em um contexto mundial, portanto só haverá paz quando tivermos um equilíbrio de forças no mundo, com poder multipolar. Não é o que vemos hoje, com o apoio dos EUA a Israel."

CONHEÇA OS PONTOS DA NEGOCIAÇÃO ENTRE ISRAEL E PALESTINOS

Estado palestino

Os palestinos querem um Estado plenamente soberano e independente na Cisjordânia e na faixa de Gaza, com a capital em Jerusalém Oriental. Israel quer um Estado palestino desmilitarizado, presença militar no Vale da Cisjordânia da Jordânia e manutenção do controle de seu espaço aéreo e das fronteiras exteriores


Fronteiras e assentamentos judeus

Os palestinos querem que Israel saia dos territórios que ocupou após a Guerra dos Seis Dias (1967) e desmantele por completo os assentamentos judeus que avançam a fronteira, considerados ilegais pela ONU. Qualquer área dada a Israel seria recompensada. Israel descarta voltar às fronteiras anteriores a 1967, mas aceita deixar partes da Cisjordânia se puder anexar os maiores assentamentos.

Jerusalém

Israel anexou a área árabe da Jordânia após 1967 e não aceita a dividir Jerusalém por considerar o local o centro político e religioso da população judia. Já os palestinos querem o leste de Jerusalém como capital do futuro Estado da Palestina. O leste de Jerusalém é considerado um dos lugares sagrados do Islã. A comunidade não reconhece a anexação feita por Israel.

Refugiados

Há cerca de 5 milhões de refugiados palestinos, a maioria deles descendentes dos 760 mil palestinos que foram expulsos de suas terras na criação do Estado de Israel, em 1948. Os palestinos exigem que Israel reconheça seu "direito ao retorno", o que Israel rejeita por temer a destruição do Estado de Israel pela demografia. Já Israel quer que os palestinos reconheçam seu Estado.

Segurança

Israel teme que um Estado palestino caia nas mãos do grupo extremista Hamas e seja usado para atacar os judeus. Por isso, insiste em manter medidas de segurança no vale do rio Jordão e pedem que o Estado palestino seja amplamente desmilitarizado. Já os palestinos querem que seu Estado tenha o máximo de atributos de um Estado comum.


Água

Israel controla a maioria das fontes subterrâneas da Cisjordânia. Os palestinos querem uma distribuição mais igualitária do recurso.





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terça-feira, 22 de julho de 2014

Resumo da Primeira Guerra Mundial


ANTECEDENTES

    Vários problemas atingiam as principais nações europeias no início do século XX. O século anterior havia deixado feridas difíceis de curar. Alguns países estavam extremamente descontentes com a partilha da Ásia e da África, ocorrida no final do século XIX. Alemanha e Itália, por exemplo, haviam ficado de fora no processo neocolonial. Enquanto isso, França e Inglaterra podiam explorar diversas colônias, ricas em matérias-primas e com um grande mercado consumidor. A insatisfação da Itália e da Alemanha, neste contexto, pode ser considerada uma das causas da Grande Guerra.


    Vale lembrar também que no início do século XX havia uma forte concorrência comercial entre os países europeus, principalmente na disputa pelos mercados consumidores. Esta concorrência gerou vários conflitos de interesses entre as nações. Ao mesmo tempo, os países estavam empenhados numa rápida corrida armamentista, já como uma maneira de se protegerem, ou atacarem, no futuro próximo. Esta corrida bélica gerava um clima de apreensão e medo entre os países, onde um tentava se armar mais do que o outro.

    Existia também, entre duas nações poderosas da época, uma rivalidade muito grande. A França havia perdido, no final do século XIX, a região da Alsácia-Lorena para a Alemanha, durante a Guerra Franco Prussiana. O revanchismo francês estava no ar, e os franceses esperando uma oportunidade para retomar a rica região perdida.

    O pan-germanismo e o pan-eslavismo também influenciou e aumentou o estado de alerta na Europa. Havia uma forte vontade nacionalista dos germânicos em unir, em apenas uma nação, todos os países de origem germânica. O mesmo acontecia com os países eslavos.

O INÍCIO DA GRANDE GUERRA

    O estopim deste conflito foi o assassinato de Francisco Ferdinando, príncipe do império austro-húngaro, durante sua visita a Saravejo (Bósnia-Herzegovina). As investigações levaram ao criminoso, um jovem integrante de um grupo Sérvio chamado mão-negra, contrário a influência da Áustria-Hungria na região dos Balcãs. O império austro-húngaro não aceitou as medidas tomadas pela Sérvia com relação ao crime e, no dia 28 de julho de 1914, declarou guerra à Servia.

POLÍTICA DE ALIANÇAS

    Os países europeus começaram a fazer alianças políticas e militares desde o final do século XIX. Durante o conflito mundial estas alianças permaneceram. De um lado havia a Tríplice Aliança formada em 1882 por Itália, Império Austro-Húngaro e Alemanha ( a Itália passou para a outra aliança em 1915). Do outro lado a Tríplice Entente, formada em 1907, com a participação de França, Rússia e Reino Unido.


      O Brasil também participou, enviando para os campos de batalha enfermeiros e medicamentos para ajudar os países da Tríplice Entente.

DESENVOLVIMENTO.

    As batalhas desenvolveram-se principalmente em trincheiras. Os soldados ficavam, muitas vezes, centenas de dias entrincheirados, lutando pela conquista de pequenos pedaços de território. A fome e as doenças também eram os inimigos destes guerreiros. Nos combates também houve a utilização de novas tecnologias bélicas como, por exemplo, tanques de guerra e aviões. Enquanto os homens lutavam nas trincheiras, as mulheres trabalhavam nas indústrias bélicas como empregadas.

FIM DO CONFLITO

Tratado de Versalhes (1919)
    Em 1917 ocorreu um fato histórico de extrema importância : a entrada dos Estados Unidos no conflito. Os EUA entraram ao lado da Tríplice Entente, pois havia acordos comerciais a defender, principalmente com Inglaterra e França. Este fato marcou a vitória da Entente, forçando os países da Aliança a assinarem a rendição. Os derrotados tiveram ainda que assinar o Tratado de Versalhes que impunha a estes países fortes restrições e punições. A Alemanha teve seu exército reduzido, sua indústria bélica controlada,  perdeu a região do corredor polonês, teve que devolver à França a região da Alsácia Lorena, além de ter que pagar os prejuízos da guerra dos países vencedores. O Tratado de Versalhes teve repercussões na Alemanha, influenciando o início da Segunda Guerra Mundial.

   A guerra gerou aproximadamente 10 milhões de mortos, o triplo de feridos, arrasou campos agrícolas, destruiu indústrias, além de gerar grandes prejuízos econômicos.

FONTE: Sua Pesquisa

Assista também ao vídeo: 100 ANOS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL - O QUE FOI A PRIMEIRA GUERRA E QUAIS SUAS CONSEQUÊNCIAS?


segunda-feira, 21 de julho de 2014

O sucesso do novo ‘Transformers


    Depois de se tornar a melhor estreia do ano nos Estados Unidos, Transformers: A Era da Extinção teve a melhor estreia da franquia no Brasil. O quarto filme da série dirigida por Michael Bay arrecadou cerca de 12,9 milhões de reais no último fim de semana e foi assistido por 837 334 pessoas, segundo a consultoria Rentrak.

    O longa, que teve uma excelente pré-estreia no país, tem bilheteria acumulada de 36 milhões de reais e público total de 2,5 milhões de pessoas. Nos Estados Unidos, o filme arrecadou 100 milhões de dólares somente em seu primeiro fim de semana de exibição, no final de junho. Por enquanto, a produção soma 889,6 milhões de dólares (cerca de 1,9 bilhão de reais) de bilheteria no mundo todo.

    Transformers: A Era da Extinção se passa quatro anos após o filme de 2011, Transformers: O Lado Oculto da Lua, e traz novos nomes no elenco, como o protagonista Mark Wahlberg, que substitui o ator-problema Shia LaBeouf, e a musa Nicola Peltz, que toma o lugar antes ocupado por Megan Fox e Rosie Huntington-Whiteley.

I) AS BILHETERIAS DA FRANQUIA 'TRANSFORMERS'

1) Transformers (2007)


O primeiro longa da franquia faturou 709,7 milhões de dólares em todo mundo e chegou à 65ª posição entre as maiores bilheterias da história do cinema.

2) Transformers: A vingança dos Derrotados (2009)


Lançado dois anos depois, o segundo episódio dos robôs alienígenas arrecadou 836,3 milhões de dólares e é a 38ª maior bilheteria de todos os tempos.

3) Transformers: O Lado Oculto da Lua (2011)


O terceiro longa da franquia atingiu a marca de 1,1 bilhão de dólares em bilheteria e é, até o momento, o mais bem sucedido, ocupando a 7ª posição no ranking das maiores bilheterias do cinema.

4) Transformers: A Era da Extinção (2014)


Até o momento, o quarto filme da série Transformers faturou 889,6 milhões de dólares em todo o mundo e já é a 32ª maior bilheteria da história do cinema. O número vai aumentar, já que o longa ainda está em cartaz.

FONTE: Veja.com

domingo, 20 de julho de 2014

DOCUMENTÁRIO: 101 Armas Que Mudaram O Mundo / History Channel

O documentário mostra como cada arma mudou o curso da história humana. Da Catapulta à tecnologia Stealth, as armas mais básicas e as mais complexas parecem ter mudado o curso da história, e com elas nosso mundo. Os seres humanos se tornaram os mais perigosos depredadores da história, em sua sede de alimentar e expandir impérios

A crise na Ucrânia


    A Ucrânia vive uma grave crise social e política desde novembro de 2013, quando o governo do então presidente Viktor Yanukovich desistiu de assinar um acordo de livre-comércio e associação política com a União Europeia (UE), alegando que buscaria relações comerciais mais próximas com a Rússia, seu principal aliado.

    Oposição e parte da população foram às ruas contra a decisão, em protestos violentos que deixaram mortos. Em 22 de fevereiro de 2014, as manifestações culminaram na destituição do contestado presidente pelo Parlamento e no agendamento de eleições antecipadas para 25 de maio.

    Nesse intervalo, houve a criação de um novo governo pró-União Europeia e anti-Rússia, que acirrou as tensões separatistas na península da Crimeia, de maioria russa, levando a uma escalada militar com ação de Moscou na região. A Crimeia realizou um referendo que aprovou sua adesão à Rússia, e o governo de Vladmir Putin procedeu com a incorporação do território, mesmo com a reprovação do Ocidente.

    Em maio, o magnata Petro Poroshenko foi eleito em primeiro turno, e um mês depois, acabou assinando o acordo com a UE que foi o pivô de toda a crise. A assinatura ocorreu em meio a confrontos no leste do país, palco de um movimento separatista pró-Rússia, e a ameaças e críticas do governo de Moscou.

DISPUTA E INÍCIO DA CRISE
   
    Dias depois de anunciar a desistência do acordo com a UE, o governo ucraniano admitiu que tomou a decisão sob pressão de Moscou. A interferência dos russos, que teriam ameaçado cortar o fornecimento de gás e tomar medidas protecionistas contra produtos ucranianos, foi criticada pelo bloco europeu.

    Milhares de ucranianos favoráveis à adesão à UE tomaram as ruas de Kiev para exigir que o presidente retomasse as negociações com o bloco. Houve confrontos. O presidente Yanukovich se recusou e disse que a decisão foi difícil, mas inevitável, visto que as regras europeias eram muito duras para a frágil economia ucraniana.

    Ele prometeu, porém, criar "uma sociedade de padrões europeus" e afirmou que políticas nesse caminho "têm sido e continuarão a ser consistentes". A partir daí, os protestos se intensificaram e ficaram mais violentos. Os grupos oposicionistas passaram a exigir a renúncia do presidente e do primeiro-ministro. Também decidiram criar um quartel-general da resistência nacional e organizar uma greve em todo o país. O primeiro-ministro Mykola Azarov renunciou em 28 de janeiro, mas isso não foi o suficiente para encerrar a crise.

    Em 21 de janeiro, após aumento da violência no país, um acordo assinado entre Yanukovich e os líderes da oposição determinou a realização de eleições presidenciais antecipadas na Ucrânia e a volta à Constituição de 2004, que reduz os poderes presidenciais. O acordo também previa a formação de um "governo de unidade", em uma tentativa de solucionar a violenta crise política.

QUEDA DO GOVERNO

    No dia seguinte à assinatura do acordo, o presidente deixou Kiev para local então desconhecido. Yanukovich declarou ter sido vítima de um "golpe de Estado". Sua casa, escritório e outros prédios do governo foram tomados pela oposição. Após a mudança na câmara, os deputados votaram pela destituição de Yanukovich por abandono de seu cargo e marcaram eleições antecipadas para 25 de maio.

    O presidente recém-eleito do Parlamento, o opositor Oleksander Turchynov, assumiu o governo temporariamente, afirmando que o país estava pronto para conversar com a liderança da Rússia para melhorar as relações bilaterais, mas que a integração europeia era prioridade.

    Yanukovich teve sua prisão decretada pela morte de civis. Após dias com paradeiro desconhecido, ele apareceu na Rússia, acusou os mediadores ocidentais de traição, disse não reconhecer a legitimidade do novo governo interino e prometeu continuar lutando pela Ucrânia.

    As autoridades ucranianas pediram sua extradição. Ao mesmo tempo, a União Europeia congelou seus ativos e de outros 17 aliados por desvio de fundos públicos. Alguns dias depois, a imprensa local informou que ele foi internado em estado grave, possivelmente por um infarto. Em 11 de março, entretanto, ele apareceu publicamente, reafirmou que ainda é o presidente legítimo e líder oficial do país, e afirmou ter certeza que as Forças Armadas locais irão se recusar a obedecer “ordens criminosas”. Em 27 de fevereiro, o Parlamento aprovou um governo de coalizão que vai governar até as eleições de maio, com o pró-europeu Arseny Yatseniuk como premiê interino.

INTERESSE RUSSO

    Para analistas, a decisão do governo de suspender a negociações pela entrada na UE se deveu diretamente à forte pressão de Moscou. A Rússia adotou medidas como inspeções demoradas nas fronteiras com a Ucrânia e o banimento de doces produzidos no país vizinho, além de ter ameaçado com várias outras medidas de impacto econômico.

    A Ucrânia está em uma longa disputa com Moscou sobre o custo do gás russo. Em meio à crise, a companhia russa Gazprom anunciou um aumento de 40% no preço do gás fornecido à Ucrânia e ameaçou cortar o abastecimento. Além disso, no leste do país – onde ainda se fala russo – muitas empresas dependem das vendas para a Rússia. Yanukovich ainda tem uma grande base de apoio nesta região.

    Após a deposição do presidente, a Rússia disse ter "graves dúvidas" sobre a legitimidade do novo governo ucraniano, e afirmou que o acordo de paz apoiado pelo Ocidente no país foi usado como fachada para um golpe. Putin emitiu uma lei na qual aprovava a intervenção russa no leste ucraniano, para proteger a população de idioma russo. A medida levantou muita polêmica, e acabou sendo revogada alguns meses depois, com o início de negociações de paz com a Ucrânia.

CRIMÉIA

    A destituição de Yanukovich aumentou a tensão na Crimeia, uma região autônoma, onde as manifestações pró-Rússia se intensificaram, com a invasão de prédios do governo e dois aeroportos. Com o aumento das tensões separatistas, o Parlamento russo aprovou, a pedido do presidente Vladimir Putin, o envio de tropas à Crimeia para “normalizar” a situação. A região aprovou um referendo para debater sua autonomia e elegeu um premiê pró-Rússia, Sergei Aksyonov, não reconhecido pelo governo central ucraniano.

     Dois dias depois, em 6 de março, o Parlamento da Crimeia aprovou sua adesão à Rússia e marcou para 16 de março um referendo para definir o status da região. Na votação, a população da Crimeia aprovou a adesão à Rússia por imensa maioria. O resultado não foi reconhecido pelo Ocidente. Mesmo assim, Putin e o auto-proclamado governo da Crimeia assinaram um tratado de adesão, e a incorporação foi ratificada. Em seguida, tropas que seriam russas passaram a cercar e invadir postos militares na Ucrânia. A Ucrânia convocou todas suas reservas militares para reagir a um possível ataque russo e afirmou que se trata de uma "declaração de guerra".

LESTE DA UCRÂNIA

    Após a adesão da Crimeia ao governo de Moscou, regiões do leste da Ucrânia, de maioria russa, começaram a sofrer com tensões separatistas. Militantes pró-Rússia tomaram prédios públicos na cidade de Donetsk e a proclamaram como "república soberana", marcando um referendo sobre a soberania nacional para 11 de maio.

    A medida não foi reconhecida por Kiev nem pelo Ocidente. O referendo chegou a ser realizado e a independência foi aprovada por 89% dos votos - entretanto, nada de oficial ocorreu posteriormente, e a Rússia também não agiu na região. Outras cidades também tiveram atuação de milícias russas, como Lugansk e Kharkiv, onde militantes invadiram prédios governamentais – no que Kiev afirma ser um plano liderado pela Rússia para desmembrar o país.

    Com a nova tensão na região, a Rússia pediu que a Ucrânia desistisse de todo tipo de preparativos militares para deter os protestos pró-russos nas regiões do leste ucraniano, já que os mesmos poderiam suscitar uma guerra civil. O governo de Kiev, entretanto, iniciou uma "operação antiterrorista" na região, para combater os separatistas, com centenas de mortes dos dois lados. Os confrontos continuaram ao longo dos meses de maio e junho, com um certo enfraquecimento dos rebeldes. A Rússia chegou a mobilizar tropas na fronteira, o que foi condenado por Kiev e pelo ocidente. Parte das tropas foi retirada posteriormente, mas a tensão permaneceu na região.

POSIÇÃO INTERNACIONAL

    As ações do governo russo levaram o presidente dos EUA, Barack Obama, a pedir a Putin o recuo das tropas na Crimeia. Para Obama, Putin violou a lei internacional com sua intervenção. Os EUA também anunciaram sanções contra indivíduos envolvidos no processo e suspenderam as transações comerciais com o país, além de um acordo de cooperação militar. A Rússia respondeu afirmando que o estabelecimento de sanções também afetaria os EUA, e criou impedimentos para cidadãos americanos.

    A União Europeia também impôs sanções contra russos. O Ocidente pressionou a Rússia por uma saída diplomática. A tensão levou a uma ruptura entre as grandes potências, com o G7 condenando a ação e cancelando uma reunião com a Rússia. Já a Otan advertiu a Rússia contra as "graves consequências" de uma intervenção na Ucrânia, que seria, segundo ele, um grave "erro histórico".

    O aumento da violência mudou o tom da diplomacia, e até os Estados europeus mais cautelosos estão falando cada vez mais da probabilidade de uma guerra no país de cerca de 45 milhões de pessoas e com território do tamanho da França.

NOVO GOVERNO E ACORDO COM A UE

    Em 25 de maio, o magnata Petro Poroshenko foi eleito em primeiro turno na Ucrânia, em uma eleição que foi boicotada por insurgentes das regiões de Donetsk e Lugansk. Duas semanas depois, ele teve seu primeiro encontro com Putin, no qual os dois concordaram que era necessário parar o banho de sangue no sudeste da Ucrânia - um "frágil passo" rumo a uma solução política para a crise.

    Algumas semanas depois, em junho, Poroshenko anunciou um cessar-fogo de uma semana no leste ucraniano e um plano de paz, que previa um diálogo com os rebeldes pró-russos sem envolvimento em atos "de assassinato ou tortura"; a criação de uma zona de segurança de 10 km ao longo da fronteira entre a Ucrânia e a Rússia; e um corredor para os mercenários russos para que deixem o país depois de terem entregue suas armas.


    A Rússia e os rebeldes aceitaram o cessar-fogo e o início de diálogos, mas a Ucrânia denunciou que houve violações do acordo.

FONTE: G1