quarta-feira, 24 de junho de 2020

A PSICOLOGIA DO FANÁTICO

Por Rogério Linhares

“Do fanatismo à barbárie não há mais do que um passo.” Denis Diderot

   Viktor Frankl foi um dos maiores psiquiatras da história, ficou famoso pela criação da logoterapia, método terapêutico inovador, baseado na busca pelo sentido da vida. De origem judaica, foi preso e levado ao campo de concentração nazista de Kaufering (Alemanha). Seu pai e sua esposa morrem de exaustão e sua mãe é enviada às câmaras de gás. Viktor vive três anos sob condições horrendas. Após a libertação escreve o livro Em Busca de Sentido (1946) e começa a refletir sobre o que pode levar pessoas “normais” ao fanatismo e, assim como os nazistas, cometerem atrocidades inomináveis. Segundo ele, o fanático possui duas características essenciais: suprimi a sua individualidade em nome da coletividade e impossibilita a manifestação da individualidade alheia.
   Todo fanático anula sua individualidade para se amoldar ao pensamento coletivo. Ele não aceita pensar por si, a ter independência para avaliar de acordo com os seus valores. O fanático está amarrado aos raciocínios e concepções do grupo ao qual diz pertencer (que pode ser uma seita, um partido, uma ideologia ou uma filosofia). Em vez de valorizar a autonomia individual ele se prende a hegemonia do pensamento coletivo. Todos os fundamentalistas religiosos da história e os regimes totalitários que já existiram (como o fascismo, o nazismo e o comunismo) criaram exércitos de fanáticos obrigando-os a aceitarem o coletivismo de suas seitas ou de seus partidos. O individualismo, como valorização das características individuais, tem má fama, por isso o prêmio Nobel de economia de 1977, Frederick Hayek, escreveu: “O Individualismo tem hoje má-fama, associado a egoísmo ou egotismo. Mas o individualismo do qual falamos em oposição a socialismo e a todas as outras formas de coletivismo não possui nenhuma conexão necessária com aquelas acepções. [...] Mas as características essenciais do individualismo [...] são o respeito pelo homem individual na sua qualidade de homem, isto é, a aceitação de seus gostos e opiniões como sendo supremos dentro de sua esfera [...]”
   Todo fanático também tenta impedir a manifestação da individualidade alheia. Primeiro ele anula sua individualidade e em seguida tenta proibir a expressão da individualidade dos outros. Toda diferença precisa ser combatida em nome de um “propósito maior”, que pode ser o “combate as desigualdades de classe” (no caso do socialismo/comunismo) ou a purificação da raça (no caso do fascismo/nazismo). A igualitarização, mesmo forçada, é a meta. O fanático não aceita que outros discordem dele, sendo assim, é preciso silenciar, por qualquer meio possível, toda voz discordante. Ele estabelece que os direitos e as responsabilidades de um indivíduo devem ser definidos pelo coletivo, atendendo sempre ao ‘’bem-comum’’. O fanático prefere a padronização a sua imagem e semelhança, pois a diversidade de ideias lhe é visto como ameaçadora e por isso deve ser combatido a qualquer custo.

Diariamente devemos, com cautela, nos fazer duas perguntas para não submergirmos no pântano do fanatismo: “eu valorizo minhas características individuais?” E mais, “eu incentivo a manifestação da individualidade dos outros?”. Caso a resposta seja negativa em qualquer das perguntas é sinal de que estamos deslizando para o mesmo fanatismo que marcou o nazi-fascismo ou o sócio-comunismo, todas coletivistas, nas quais o individuo não tinha valor e era considerado apenas uma peça da engrenagem social, podendo ser descartado e substituído por qualquer motivo.