domingo, 12 de abril de 2020

O CRISTÃO E A POLÍTICA

Por Rogério Linhares

   O economista britânico Arnold Toynbee dizia que “o maior castigo para aqueles que não se interessam por política, é que serão governados pelos que se interessam.” Podemos parafraseá-lo dizendo que o maior castigo para os bons que não gostam de política é ser governado pelos maus que gostam. Esta é uma realidade da qual nenhum cristão pode fugir. Seria uma atitude sabia deixar que os maus decidam o destino dos bons?

   No século XVI, o movimento protestante anabatista afirmava que a política era algo indigno dos cristãos, por isso se dedicavam apenas as atividades eclesiásticas e deixavam a vida publica para os pagãos. Entretanto, neste mesmo período, surgi na Suiça um homem que revolucionaria o pensamento cristão pelas gerações seguintes. Seu nome era João Calvino. Reagindo a essa análise equivocada dos anabatistas, o "príncipe de Genebra", reproduzindo ideias agostinianas, dizia que Deus era o dono de toda nossa vida, isto é, de todas às áreas da vida, incluindo a política. Portanto, era um dever do cristão “remir” todas as instituições humanas corrompidas pelo pecado.

   Ecoando os antigos anabatistas, muitos cristãos da atualidade se esquivam de participar da vida publica e dos debates políticos dizendo que isso não faz parte de sua missão. Não à toa o escritor Gilberto Freire, autor do livro Casa Grande e Senzala, criticou o protestantismo brasileiro dizendo que ele gerava gramáticos, e não literatos. Essa teologia voltada exclusivamente para dentro da igreja é do interesse dos que não querem mudança no sistema corrupto e viciado. Além de contar com essa ajuda teológica, os inimigos do cristianismo tentam imobilizar os religiosos dizendo que o Estado é laico e que lugar de cristão é na igreja. Em algumas congregações, inclusive, discutir política é tabu. Entretanto, Charles Spurgeon, um grande pregador do século XIX, dizia que “só os tolos acreditam que política e religião não se discutem. Por isso os ladrões permanecem no poder e os falsos profetas continuam a pregar ”.

   É de suma importância que os cristãos percebam que a igreja não deve apenas se esforçar para formar bons pastores, evangelistas, missionários e obreiros, mas também bons médicos, advogados, juízes e políticos cristãos. Aqueles para darem continuidade a obra evangélica e estes, como sal e luz, para redimir as instituições carcomidas pela perversão humana. Santo Agostinho em sua obra A Cidade De Deus dizia que o cristianismo, com o seu amor-caritas, continha uma riqueza extraordinária capaz de transforma a política. Do contrario, caso os cristãos mantenham-se omissos do seu dever cívico de participação no mundo secular, para sua transformação, os maus continuarão progredindo no mal e degenerarão todo sistema. Se não agirmos agora como agentes de transformação da sociedade, com o passar do tempo, os bons passarão a ter vergonha de serem bons. Como bem sentenciou Rui Barbosa “de tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.

Não é certo e nem prudente deixar que os maus decidam o destino dos bons. Precisamos assumir o nosso papel histórico dentro do reino de Deus e do reino dos homens fazendo sempre as seguintes perguntas: se não eu, quem? Se não hoje, quando? Se não aqui? Aonde? Se continuarmos permitindo que os maus corrompam as leis, desvirtuem a administração e pervertam os valores sem fazermos nada seriamos como aquele pastor que preserva o lobo, mas condena as ovelhas.


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