domingo, 19 de abril de 2020

O CANTO DAS SEREIAS, O SOCIALISMO E O CRISTIANISMO

Por Rogério Linhares

   Alguns amigos me perguntam por que abandonei o socialismo. Se o socialismo, dizem, tem um compromisso com os mais pobres e oprimidos, assim como o cristianismo, por que rejeitá-lo como catastrófico e ter por ele uma aversão imensurável? A resposta a essa pergunta não é fácil, mas podemos começar pela mitologia.

   A expressão “o canto da sereia” tem sua origem na mitologia grega. Segundo o mito, as sereias eram criaturas de extraordinária beleza e sensualidade irresistível. Moravam numa ilha do Mediterrâneo e tinham o poder de atrair os navegantes que se aproximavam da ilha graças a uma melodia encantadora e incontrolável. Enlouquecidos pela música sobrenatural os condutores lançavam as embarcações contra as rochas da ilha, naufragavam e eram devorados pelas sereias. Hoje, o termo “o canto da sereia” sugere toda tentativa agradável de ludibriar e enganar alguém.

   O socialismo vende aos cristãos a ideia que é extremamente preocupado com os mais pobres e necessitados. Esse discurso torna-se, para esquerda, “o canto da sereia” a fim de atrair inúmeros fieis incautos. Uma vez do lado deles, os crentes são alvos de um bombardeio ideológico que os descaracteriza do cristianismo tradicional, uma vez que, com o tempo, eles reverenciarão mais Karl Marx e o Capital do que Jesus Cristo e a Bíblia, interpretarão o mundo a partir de um materialismo histórico dialético e não de uma ortodoxia cristocêntrica e vivenciarão uma moralidade líquida (que se adapte as circunstâncias) e não uma moralidade sólida (que perpassa todas as circunstâncias).

   O ódio da esquerda pelo cristianismo tradicional se manifesta de muitas maneiras, uma delas, é a forma como retratam os religiosos conservadores.  Todo e qualquer cristão conservador que não adote seu discurso politicamente correto é retratado pela militância como um monstro horrendo a ser exterminado a todo custo, por isso são desqualificados por eles como fascistas, nazistas, machistas, homofóbicos, misóginos, racistas, etc... Uma vez seduzido pelo “canto da sereia socialista” um cristão poderá fazer vista grossa a toda essa perseguição verborrágica a outros cristãos e ainda padecer de síndrome de Estocolmo.

   A filantropia é uma característica de todo cristão verdadeiro, mas ela por si só não significa nada, pois um individuo dissimulado poderá praticá-la para parecer generoso. Tom Hovestol, no livro A Neurose da Religião, destaca que na época de Jesus nenhum outro grupo religioso era mais filantropo e preocupado com os mais pobres e necessitados que os fariseus. Entretanto, foi a facção que recebeu a mais dura repreensão do Senhor. O texto de Mateus 23 diz que Cristo censurou os fariseus designando-os de “hipócritas”, “sepulcros caiados” e “raça de víboras”. É verdade que existem muitos socialistas sinceros, mas como Mark W. Baker aconselhou, é bom não confundir sinceridade com verdade, pois podemos estar sinceramente errados.

   No mito, segundo Homero em A Odisséia, Ulisses consegue vencer os encantos das sereias pedindo aos seus amigos que o amarrasse no mastro do navio. Isso é o que todo cristão autêntico deve fazer, isto é, estar amarrado em Cristo, em sua Palavra e nos Pais da Igreja para não se deixar levar pelo “canto da sereia socialista” e as verdades fundamentais do cristianismo não venham ser adulteradas por aquilo que tem apenas a “aparência do bem”. Como disse Marinho Lutero “a paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço”.

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