Por Rogério Linhares
A alma humana, compreendida como aquela
capacidade de pensar, sentir e agir é um bem imaterial de significado
inestimável. Para o filosofo Luiz Felipe Pondé a propriedade privada de
um indivíduo é composta não apenas por seus bens materiais, ela também
abrange os imateriais. A sacralidade e a inviolabilidade da propriedade
privada era tão bem delimitada pelos hebreus antigos que os 10
mandamentos contemplou essa percepção quando alertou para “não
roubarás”.
Ocorre que marxistas nunca aceitaram bem a noção de
propriedade privada. Usando por base as ideias de Rousseau, eles
passaram a afirmar que ela era a causa da “infelicidade” e da
“desigualdade” entre os homens. Socialistas e comunistas de todas as
tonalidades vêm lutando continuamente para ter o domínio político,
econômico e cultural sobre o homem, e consequentemente de sua alma, com o
objetivo de reformá-lo a seu bel prazer. Isso aconteceu na Rússia a
partir de 1917. O êxito do novo regime fez com que Aleksandr Zinovyev
popularizasse o termo Homo Sovieticus para fazer referencia ao nível de
evolução humano alcançada pelo sucesso da engenharia social marxista na
URSS.
Atualmente, sendo fiel a sua tradição, a esquerda luta
diuturnamente para ser dona de nossa alma. Ela não admite que indivíduos
pertencentes a minorias sob sua tutela possam pensar, sentir ou agir de
uma forma diferente da sua. Permanecer em uma “senzala ideológica” onde
os interesses individuais devam se submeter aos interesses coletivos é o
objetivo primordial deles. É por isso que ficam horrorizados e
consideram inadmissíveis quando um negro não se submete ao movimento
negro, quando uma mulher não segue as orientações do movimento
feminista, quando um gay recusa as prescrições do movimento LGBT, ou
ainda, quando um professor não aceita as determinações de seu sindicato.
Essa visão marxista é arrogante, exclusivista e tem proporções
superlativas. Primeiro, por que parte da ideia de que não existe
salvação a não ser neles. E segundo, por que está implícita a percepção
de que todos os males da sociedade advém do fato deles não estarem no
controle. Esse ponto de vista messiânico remete a uma religião sem Deus
ou a uma religião laica onde o Estado é deus, o capitalismo é o diabo,
as elites os demônios, os intelectuais do partido profetas e o futuro
dourado da utopia socialista o céu.
A esquerda prega tolerância e
respeito a todos os divergentes, contanto que pertençam ao seu grupo.
Eles se recusam a notar que a felicidade e satisfação de alguém podem
não está em seu circulo ideológico e que todos tem o direito de buscar a
sua própria felicidade em qualquer lugar. Esse direito é inalienável,
de modo que Thomas Jefferson, usando como referencia o livro “Um Ensaio
sobre a Compreensão do Ser Humano”, do filósofo inglês John Locke,
afirmou, na Constituição Americana, o seguinte: “Nós tomamos essas
verdades como sendo auto evidentes, que todos os homens são criados
iguais, que eles foram dotados pelo seu Criador com certos Direitos
inalienáveis, dentre os quais estão a Vida, a Liberdade e a busca da
Felicidade”.