Assisti ao filme Lincoln, no dia seguinte à eleição do novo presidente do Senado. O centro do filme está nas articulações no Congresso norte-americano durante os dias que antecederam a votação da emenda constitucional que aboliu a escravidão nos EUA.
O que se percebe são os debates dentro do Congresso e a movimentação intensa do presidente e de seus assessores para obterem os votos necessários em uma decisão muito difícil, que aprovou a abolição por 119 a 56, na Câmara dos Deputados, e por 38 a 6, no Senado.
Até o último momento, Lincoln não tinha os votos necessários. Foi preciso uma articulação cuidadosa, um a um de um grupo de contrários ou indecisos, até obter-se a maioria, durante a própria votação. Em um suspense que em nada se parece com as votações de hoje no Congresso brasileiro, onde um rolo compressor, sem ideologia, mas por acordos anteriores, aprova qualquer proposta vinda do Poder Executivo.
O filme mostra a determinação e a habilidade de Lincoln. Mostra que na democracia para conseguir votos necessários no Congresso é preciso transigir, negociar, até mesmo oferecer vantagens para obter mudanças de lado entre deputados e senadores. Mas uma negociação onde o Congresso demonstre sua independência e força, mesmo com um presidente muito popular e que liderava uma guerra civil de quatro anos.
O filme mostra duas grandes diferenças entre o que acontece nas relações entre Executivo e Legislativo no Brasil, cujo exemplo é a eleição do presidente do Senado. Primeiro, lá as negociações não visavam criar base permanente, fazer alianças espúrias que servissem para implantar um presidencialismo monárquico. Segundo, lá as negociações foram por uma causa, a abolição da escravatura.
O que enfraquece hoje o Congresso brasileiro é a perda de causas no exercício da arte da política. E em consequência, sem elas, a política vira um jogo menor de artimanhas por interesses pessoais, alguns querendo o poder pelo poder, outros querendo o poder para enriquecer com dinheiro público.
Seria interessante passar o filme Lincoln para que os senadores assistissem e, depois, dedicassem uma sessão plenária para debater como é bonito quando Política casa com História.
Cristovam Buarque, senador pelo PDT do Distrito Federal e ex-reitor da Universidade de Brasília
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