quarta-feira, 23 de agosto de 2017

O FASCISMO ERA DE DIREITA?

Por Rogério Linhares

      Atualmente a palavra fascista se tornou uma espécie de palavrão a qual empregamos para definir um adversário político. No geral, a esquerda adora usar esta expressão para rotular seus desafetos. Para muitos Sergio Moro é um fascista e a Lava Jato é um braço do fascismo. O MBL é um órgão fascista. E o Bolsonaro, mil vezes fascista.

      Segundo o DICTIONNAIRE HISTORIQUE DES FASCISMES ET DU NAZISME “não existe nenhuma definição universalmente aceita do fenômeno fascista, nenhum consenso, por menor que seja, quanto à sua abrangência, às suas origens ideológicas ou às modalidades de ação que o caracterizam”. De acordo com o historiador Stanley G. Payne, um dos mais importantes especialistas em fascismo da atualidade, “fascismo permanece sendo, provavelmente, o mais vago dos termos políticos mais importantes”.

      Apesar dos especialistas discordarem sobre alguns aspectos do fascismo os fatos permanecem inalterados, pois são fatos. Quando o fascismo surgiu era visto por muitos políticos e intelectuais da época como uma espécie de terceira via, isto é, como um sistema que tentava aglutinar alguns aspectos do socialismo e do capitalismo em um único modelo político, exatamente por isso, quando apareceu no Brasil, recebeu o nome de integralismo (algo que integraria os dois lados). A diferença estava no fato de que o socialismo marxista tinha ambições internacionais enquanto o nazifascismo possuía inicialmente ambições nacionais, daí o motivo de Hitler batizar o seu antigo partido de Nacional-Socialismo.

      Embora a ideia original fosse mesclar aspectos do socialismo e do capitalismo em uma só corrente política as semelhanças e coincidências entre fascismo e socialismo são aterradoras. Vejamos algumas:

1) OS PRINCIPAIS LIDERES FASCISTAS TINHAM FORTES LIGAÇÕES COM O SOCIALISMO: Alessandro, o pai de Mussolini, era um socialista fanático e fez parte da Primeira Internacional ao lado de Marx e Engels. Em seus primeiros anos de vida política Mussolini era um militante socialista e trabalhou em vários jornais marxistas, entre os quais L’Avvenire del Lavoratore (O Futuro do Trabalhador/1902) e o Avanti! (Avante/1911). Além disso, Adolf Hitler, ao se tornar líder absoluto do Partido dos Trabalhadores Alemães, vai renomear o grupo para Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Jonah Goldberg menciona no livro FASCISMO DE ESQUERDA que Hitler apreciava e estudava o marxismo e que esta ideologia ao mesmo tempo lhe fascinava e lhe causava repulsa. No livro HITLER M’A DIT” (1939), de Hermann Rauschning, há um discurso de Hitler, em que diz: “Não sou apenas o vencedor do marxismo, sou seu realizador. Aprendi muito com o marxismo e não pretendo escondê-lo. O que despertou interesse nos marxistas e me forneceu ensinamentos foram seus métodos. Eu, simplesmente, levei a sério o que essas mentes de pequenos comerciantes e secretárias haviam vislumbrado timidamente. Todo o nacional-socialismo lá está contido. Veja bem: os grêmios operários de ginástica, as células empreendedoras, os desfiles monumentais, os folhetos de propaganda redigidos em linguagem de fácil compreensão pelas massas. Esses novos métodos de luta política foram praticamente inventados pelos marxistas. Eu só precisei me apoderar deles e desenvolvê-los para conseguir assim os instrumentos de que necessitávamos.”

2) TANTO O SOCIALISMO QUANTO O FASCISMO ERAM RADICALMENTE COLETIVISTAS: o coletivismo prega que o indivíduo deve se submeter a um grupo, que pode ser a uma classe (no caso socialista) ou a um Estado (no caso fascista). Em ambos os regimes o indivíduo só encontra sentido ao ser acorrentado a ação coletiva e ao pensamento coletivo, podendo ser descartado caso não se enquadre no bem maior do interesse comum. No programa do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, aprovado no dia 25 de fevereiro de 1920, o artigo 25 é descrito como “O Bem Comum Precedendo o Bem Individual” e propõe para este fim “a criação de um forte poder central do Reich e a absoluta autoridade do parlamento político central, sobre todo o Reich e as suas organizações em geral”.

3) TANTO O SOCIALISMO QUANTO O FASCISMO TINHAM UMA MENTALIDADE ANTICAPITALISTA: para o socialismo o capitalismo era injusto e irracional. Injusto porque a única forma de alguém enriquecer era explorando os outros e irracional porque poucos ficavam ricos a custa de muitos. Entretanto, o nazifascismo compartilhava dessa mesma ideia. Em um determinado momento Hitler afirmou: “nós somos inimigos do atual sistema econômico capitalista para a exploração dos economicamente fracos, com seus salários injustos, com sua indecorosa avaliação do ser humano de acordo com a riqueza e a propriedade em vez de sua responsabilidade e desempenho, e nós estamos todos determinados a destruir esse sistema sob todas as condições”.

4) TANTO O SOCIALISMO QUANTO O FASCISMO ADOTAVAM O ANTAGONISMO SOCIAL: enquanto o socialismo adotava o antagonismo social de classes (burguesia x proletariado) o fascismo abraçava o antagonismo social de raças (raças superiores x raças inferiores). Para os seguidores de Marx o bode expiatório para os problemas do mundo seriam os capitalistas e burgueses enquanto para os seguidores de Mussolini e Hitler o bode expiatório seriam os povos inferiores e os judeus.

      Alguém poderia objetar dizendo: se o fascismo era de esquerda então por que ele perseguiu duramente os socialistas marxistas? Pelo fato de ter havido um conflito entre fascismo e socialismo não significa que não pertenciam ao mesmo espectro político. Durante a Reforma Protestante houve um conflito entre católicos e protestantes e nem por isso deixavam de pertencer ao cristianismo. Hoje existe uma disputa entre xiitas e sunitas e nem por isso deixam de pertencer ao islamismo. Ainda que a ideia original do fascismo fosse integrar algumas características do socialismo e do capitalismo em um único sistema político e ideológico o DNA do socialismo está impregnado no fascismo.

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