Por Rogério Linhares
Atualmente a palavra fascista se tornou uma espécie de palavrão a qual
empregamos para definir um adversário político. No geral, a esquerda
adora usar esta expressão para rotular seus desafetos. Para muitos
Sergio Moro é um fascista e a Lava Jato é um braço do fascismo. O MBL é
um órgão fascista. E o Bolsonaro, mil vezes fascista.
Segundo o
DICTIONNAIRE HISTORIQUE DES FASCISMES ET DU NAZISME “não existe nenhuma
definição universalmente aceita do fenômeno fascista, nenhum consenso,
por menor que seja, quanto à sua abrangência, às suas origens
ideológicas ou às modalidades de ação que o caracterizam”. De acordo com
o historiador Stanley G. Payne, um dos mais importantes especialistas
em fascismo da atualidade, “fascismo permanece sendo, provavelmente, o
mais vago dos termos políticos mais importantes”.
Apesar dos
especialistas discordarem sobre alguns aspectos do fascismo os fatos
permanecem inalterados, pois são fatos. Quando o fascismo surgiu era
visto por muitos políticos e intelectuais da época como uma espécie de
terceira via, isto é, como um sistema que tentava aglutinar alguns
aspectos do socialismo e do capitalismo em um único modelo político,
exatamente por isso, quando apareceu no Brasil, recebeu o nome de
integralismo (algo que integraria os dois lados). A diferença estava no
fato de que o socialismo marxista tinha ambições internacionais enquanto
o nazifascismo possuía inicialmente ambições nacionais, daí o motivo de
Hitler batizar o seu antigo partido de Nacional-Socialismo.
Embora a ideia original fosse mesclar aspectos do socialismo e do
capitalismo em uma só corrente política as semelhanças e coincidências
entre fascismo e socialismo são aterradoras. Vejamos algumas:
1)
OS PRINCIPAIS LIDERES FASCISTAS TINHAM FORTES LIGAÇÕES COM O SOCIALISMO:
Alessandro, o pai de Mussolini, era um socialista fanático e fez parte
da Primeira Internacional ao lado de Marx e Engels. Em seus primeiros
anos de vida política Mussolini era um militante socialista e trabalhou
em vários jornais marxistas, entre os quais L’Avvenire del Lavoratore (O
Futuro do Trabalhador/1902) e o Avanti! (Avante/1911). Além disso,
Adolf Hitler, ao se tornar líder absoluto do Partido dos Trabalhadores
Alemães, vai renomear o grupo para Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães. Jonah Goldberg menciona no livro FASCISMO DE
ESQUERDA que Hitler apreciava e estudava o marxismo e que esta ideologia
ao mesmo tempo lhe fascinava e lhe causava repulsa. No livro HITLER M’A
DIT” (1939), de Hermann Rauschning, há um discurso de Hitler, em que
diz: “Não sou apenas o vencedor do marxismo, sou seu realizador.
Aprendi muito com o marxismo e não pretendo escondê-lo. O que despertou
interesse nos marxistas e me forneceu ensinamentos foram seus métodos.
Eu, simplesmente, levei a sério o que essas mentes de pequenos
comerciantes e secretárias haviam vislumbrado timidamente. Todo o
nacional-socialismo lá está contido. Veja bem: os grêmios operários de
ginástica, as células empreendedoras, os desfiles monumentais, os
folhetos de propaganda redigidos em linguagem de fácil compreensão pelas
massas. Esses novos métodos de luta política foram praticamente
inventados pelos marxistas. Eu só precisei me apoderar deles e
desenvolvê-los para conseguir assim os instrumentos de que
necessitávamos.”
2) TANTO O SOCIALISMO QUANTO O FASCISMO ERAM
RADICALMENTE COLETIVISTAS: o coletivismo prega que o indivíduo deve se
submeter a um grupo, que pode ser a uma classe (no caso socialista) ou a
um Estado (no caso fascista). Em ambos os regimes o indivíduo só
encontra sentido ao ser acorrentado a ação coletiva e ao pensamento
coletivo, podendo ser descartado caso não se enquadre no bem maior do
interesse comum. No programa do Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães, aprovado no dia 25 de fevereiro de 1920, o artigo
25 é descrito como “O Bem Comum Precedendo o Bem Individual” e propõe
para este fim “a criação de um forte poder central do Reich e a
absoluta autoridade do parlamento político central, sobre todo o Reich e
as suas organizações em geral”.
3) TANTO O SOCIALISMO QUANTO O
FASCISMO TINHAM UMA MENTALIDADE ANTICAPITALISTA: para o socialismo o
capitalismo era injusto e irracional. Injusto porque a única forma de
alguém enriquecer era explorando os outros e irracional porque poucos
ficavam ricos a custa de muitos. Entretanto, o nazifascismo
compartilhava dessa mesma ideia. Em um determinado momento Hitler
afirmou: “nós somos inimigos do atual sistema econômico capitalista
para a exploração dos economicamente fracos, com seus salários injustos,
com sua indecorosa avaliação do ser humano de acordo com a riqueza e a
propriedade em vez de sua responsabilidade e desempenho, e nós estamos
todos determinados a destruir esse sistema sob todas as condições”.
4) TANTO O SOCIALISMO QUANTO O FASCISMO ADOTAVAM O ANTAGONISMO SOCIAL:
enquanto o socialismo adotava o antagonismo social de classes (burguesia
x proletariado) o fascismo abraçava o antagonismo social de raças
(raças superiores x raças inferiores). Para os seguidores de Marx o bode
expiatório para os problemas do mundo seriam os capitalistas e
burgueses enquanto para os seguidores de Mussolini e Hitler o bode
expiatório seriam os povos inferiores e os judeus.
Alguém poderia
objetar dizendo: se o fascismo era de esquerda então por que ele
perseguiu duramente os socialistas marxistas? Pelo fato de ter havido um
conflito entre fascismo e socialismo não significa que não pertenciam
ao mesmo espectro político. Durante a Reforma Protestante houve um
conflito entre católicos e protestantes e nem por isso deixavam de
pertencer ao cristianismo. Hoje existe uma disputa entre xiitas e
sunitas e nem por isso deixam de pertencer ao islamismo. Ainda que a
ideia original do fascismo fosse integrar algumas características do
socialismo e do capitalismo em um único sistema político e ideológico o
DNA do socialismo está impregnado no fascismo.
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