terça-feira, 25 de setembro de 2018

O ERRO DA NEUTRALIDADE



Por Rogério Linhares


“Devemos sempre tomar lados. A neutralidade ajuda o algoz, nunca a vítima." (Elie Wiesel)


Observando atualmente inúmeros amigos cristãos, percebo que enquanto o país passa por uma profunda crise política, moral e institucional muitos deles se escondem sob o manto da neutralidade para não perder amigos ou por medo de retaliações. Estas pessoas não gostam de se posicionar sobre temas polêmicos, manifestar-se politicamente ou mesmo defender aquilo em que acreditam.

Jamais devemos ficar neutros ante a verdade e a justiça sob pena de comprometermos o nosso caráter. O Novo Testamento é claro em relação a isso. Certa vez Jesus afirmou que “quem não é comigo é contra mim, e quem comigo não ajunta, espalha” (Lucas 11:23). Para Jesus ou você é ou não é, não existe meio termo. A igreja de Laodicédia foi condenada por Cristo em Apocalipse por ser neutra em sua fé: “conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” (Apocalipse 3:15,16). Não se posicionar é omissão e omissão é pecado. São Tomás de Aquino resumiu bem essa perspectiva quando declarou que : “Não se opor ao erro é aprová-lo, não defender a verdade é negá-la”.

Dante Aligheri , na obra clássico A Divina Comédia, afirma que o inferno está dividido em 34 moradas ocupadas de acordo com a gravidade dos pecados dos condenados. Ele também diz que antes dos círculos infernais, em um “vestíbulo”, existe um lugar reservado aos ignavos, isto é, aos medrosos, covardes e tímidos, que nas palavras de John F. Kennedy "escolheram a neutralidade em tempos de crise”. A obra de Dante é só uma alegoria, mas traz um fundo moral inquietante aos cristãos modernos. Os bárbaros da atualidade querem aniquilar todos os pilares da civilização judaico-cristã que foi duramente construído até agora. A fúria desconstrutiva deles está voltada contra a família, a religião e a propriedade. A neutralidade nesse cenário é colaborar com o inimigo.

Não podemos nos esconder em nossas igrejas enquanto os agentes da inversão lutam diuturnamente para inverter nossos valores e destruir a ordem social. A agenda deles, relativa aos valores, inclui a legalização do aborto, ideologia de gênero, legalização da maconha, relativização da pedofilia, dentre outras. Em relação a ordem social temos hospitais jogados as traças, 60 mil homicídios por ano, 12 milhões de desempregados, falência da educação e corrupção generalizada. Se permanecermos dentro de quatro paredes discutindo teologia desprovida de um senso de dever social poderemos está condenando toda a nossa comunidade ao caos. Seria como tocar harpa enquanto Roma pega fogo. Conta-se que C.S. Lewis (autor de AS CRÔNICAS DE NÁRNIA), durante a Segunda Guerra Mundial, quando professor de literatura medieval e renascentista na Universidade Oxford, se direcionou aos seus colegas em 1939, com a seguinte repreensão: “O que estamos fazendo aqui em estudar filosofia e literatura medieval, enquanto a Europa está em guerra? Como podemos continuar com nossos interesses e nossas plácidas ocupações quando as vidas e as liberdades de nossos irmãos europeus estão em perigo? Não estamos também tocando violino enquanto Roma se incendeia?”. Ficar inerme é uma escolha que poderá voltar-se contra si mesmo, pois a Venezuela é um lembrete constante de um povo que percebeu tarde demais as consequências de não fazer nada.

Os cristãos são pacifistas por natureza e não gostam do embate político. Entretanto, devemos lembrar que embora Jesus fosse pacifista e amoroso ele também tinha um forte compromisso com a verdade e a justiça, por isso perdoava pecados e curava doentes ao mesmo tempo que com um chicote expulsava cambistas inescrupulosos do templo e repreendia os fariseus chamando-os de sepulcros caiados e raça de víboras. Lembre-se do que David Horowitz, autor do livro "A Arte da Guerra Política”, disse:  “Conservadores são decentes demais para a política e é por isso que não gostam de política... A esquerda vive na luta, eles vivem para lutar, para confrontar, para comprar briga e incomodar. E é por isso que são tão bem sucedidos em acusar os outros, em apontar o dedo, em constranger e silenciar os adversários, em enfraquecer o outro lado. Nós não expomos suas hipocrisias, suas mentiras, não mostramos os erros das reportagens que criam, preferimos acreditar que é tudo uma questão de diferença de opinião que pode ser resolvida numa conversa. Precisamos de conservadores dispostos a ir para a guerra, a responder fogo com fogo.”